quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

TEMPESTADE VEM


Lei de Murphy: O criador dessa lei foi o capitão da Força Aérea americana, Edward Murphy, e também foi a primeira vítima conhecida de sua própria lei. A Lei de Murphy tira vantagem da nossa tendência de enfatizar o negativo e não perceber o que é positivo. Ela se baseia nas leis da probabilidade - a possibilidade matemática de que algo vai acontecer.
Eu deveria estar escrevendo mais um capítulo sobre as confusões de Alice, mas andei me frustrando com o desenrolar dos acontecimentos. O fato é que com a popularidade (nome de um livro que estou escrevendo há mais de uma década) das Redes Sociais, os blogs andam acumulando poeira – poeira de leitores e poeira de bloggers. Minha preguiça em divulgar e ler outras publicações também não me ajuda muito. Tenho vários capítulos escritos, sei o que acontecerá no final, mas o tesão não está comparecendo, portanto deixo ela guardadinha na gaveta da saudade... Por enquanto.

Gosto muito de escrever sobre desventuras, talvez isso seja consequência de uma tal Lei de Murphy, tão colada a mim que desconfio ser minha irmã gêmea siamesa. Desde que conheci essa maldita lei, vi minha vida mudar. Buracos surgiam no meio das ruas; assaltantes ninjas roubavam meus pertences; cachorros famintos mordiam meu traseiro... E o que eu fazia para me defender? Apenas tirava proveito de tudo... Escrevendo, é claro!

Estava um dia maravilhoso, o sol na medida certa e os passarinhos tiveram o bom senso de não cantarem em minha janela. Se eu não tivesse acordado atrasado e por culpa de um pesadelo envolvendo zumbis aquáticos, até poderia declarar que seria um dia perfeito.

Vesti minha bermuda branca, minha melhor camisa, meu tênis vintage, me vi lindo e pronto para sair de casa e correr para reunião do teatro. Estava com a ideia ilusória que naquele dia talvez tivesse êxito ao trabalhar o meu lado social. Aliás, nunca estive tão anti-social como nos últimos tempos. A pressa e Murphy, mais uma vez ele, me fizeram sentir fome. A fome e Murphy me fizeram querer beber achocolatado. A pressa, a fome, a falta de atenção e Murphy me fizeram derramar o achocolatado na bermuda branca e assim tive que mudar todo o figurino. Ao colocar o pé na rua, minha figura já não era linda, nem alegre, nem nada que valesse uma música de bossa nova.

O trajeto até o ensaio só serviu para provar que zumbis aquáticos quem sabe até fossem gente boa. O céu começava a ficar escuro e o relógio a me dar sinais de que estava atrasado.

Quando cheguei à estação de ônibus, quebrei uma promessa. Costumo defender a ideia de que nunca, em hipótese alguma, correria para pegar qualquer tipo de meio de transporte. Minha reputação já estava morta, enterrada e recebendo flores. A luta foi tão grande para entrar no veículo, que nem percebi que não estava fazendo a coisa certa. Existem três tipos de linhas de ônibus. A primeira é a linha do tipo PARADOR, ela vai parando em todas as estações. Depois, linha do tipo EXPRESSO, para em algumas e ignora outras. Para finalizar tem as linhas DIRETAS, essa não para em nenhuma estação e é perfeita para quem precisa ir de uma extremidade à outra. Bem, eu só precisava descer na estação seguinte, mas como Murphy estava ali dando beliscões em minhas nádegas, obviamente eu tinha entrado na linha DIRETA.

Quando me dei conta da burrada cometida, passei pelo habitual hiato de três segundos antes de perceber que deveria estar me sentindo desesperado. Gargalhei internamente, de verdade, pela situação em que me encontrava. Olhei para o relógio, já estava uma hora atrasado e desejava que algum tipo de acidente pudesse me tirar de dentro daquele ônibus, contudo algo que não piorasse mais o meu visual.

Continuei pensando na melhor maneira de lidar com aquela situação. A melhor maneira de lidar com aquela situação seria me matar, mas a segunda melhor maneira era tentar me distrair com música, nesse instante comecei a apimentar a minha vida ouvindo Spice Girls, pois elas sempre conseguiram me deixar feliz.

Eu poderia ter me sentido muito animado ao descer do ônibus, e, de certo modo, até faria sentido, afinal de contas passei por quarenta e três estações rodoviárias – sendo que vinte e duas delas de forma desnecessária -, mas meu atraso já tinha contabilizado duas horas e uma chuva assustadora tornava tudo mais difícil. Quase chorei ao chegar à rua e encontrá-la alagada. Um rio repleto de doenças me separava de meu destino. Agradeci por não ter saído com a bermuda branca e o tênis vintage, porém isso não trazia luz ao meu dia de trevas... O mesmo não posso dizer da motocicleta que parou ao meu lado. Era um senhor de aparentemente quarenta e três anos (escolhi esse número para combinar com as malditas estações), ele me ofereceu ajuda para passar pela água. Lá estava eu na garupa de um desconhecido de aparentemente quarenta e três anos.

Mas, de qualquer modo, toda essa sequência de desventuras talvez servisse como trampolim para longas e divertidas conversas que poderia ter com o resto do elenco, uma vez que rir das desgraças da vida é algo maravilhoso. Não demoraria muito para trocarmos experiências, combinarmos saídas para eventos, firmarmos uma amizade verdadeira a ponto de criarmos vínculos fraternais...

Bem, quando cheguei à reunião, não aconteceu nada disso comigo e com o resto do elenco. Continuei destacado dos demais, tentando me infiltrar entre um assunto e outro. Na verdade a reunião já tinha terminado e eu estava muito sem graça por ter me atrasado tanto.

Não lembro ao certo com a história terminou. Talvez eu apenas tenha tirado proveito de minha invisibilidade para relaxar num canto qualquer. As Spice Girls cantando Viva Forever deixava tudo mais irônico e cretino. Tão irônico e cretino como eu. Por fim, fechei os olhos e voltei a gargalhar internamente, pois é isso o que sempre faço para fugir dos problemas. Sou o tipo de pessoa que vê a vida de uma forma crítica e cretina... Que ri de si mesmo, quando na verdade é pra chorar.

11 comentários:

  1. Que dia heim? Também sou do tipo que sempre dou risada quando estou nervosa, pior é que as pessoas me olham como se eu fosse louca :o

    http://www.eucurtoliteratura.com/

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    1. Tem horas que não dá né? Se você for ficar se descabelando pro todos os problemas, vai terminar o dia estressada e e descabelada. Tem que rir mesmo.

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  2. Deu pra reconhecer o gosto pelo humor negro e pelo clichê, você tem talento, mas é claro que você já sabe disso pessoas inteligentes sempre sabem que são, gostei da forma que se expressa, acompanhado o blog

    BEIJOSSsss....

    http://sonhosdeleitor.blogspot.com.br/

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  3. Nossa, já tive dias ruins, mas acho que esse superou qualquer um hehe Parabéns pela escrita, excelente, mantem o leitor até o fim!

    Bjos

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    1. Eu já tive dias piores, acredite... Mas saí sambando em todos eles.

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  4. tenho que comentar você escreve super bem viu, tem dias que parece que não são pra ser vividos de tão ruim que são, mas é a vida, a gente segue né ... acompanhando hahaha' bjos

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    1. A vida seria muito chata se fosse maravilhosa todos os dias. Tem que ter umas desventuras para divertir mesmo.

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  5. Oi Diego tudo bom?
    Também sempre procurei rir das coisas que não ocorrem do jeito que eu planejei, inclusive ri bastante lendo seu texto... algumas pessoas me interpretam mal, acham que eu estou rindo das pessoas, e não da situação. Tento procurar uma outra forma de encarar as coisas, mas para mim rir deixa a vida mais leve. Adoro textos desse tipo, continue escrevendo vou adorar ler, bjos
    CarolMello.com

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  6. De fato, hoje em dia as pessoas estão caindo numa situação um tanto quanto hipócrita de serem politicamente corretas. Rir de outra pessoa hoje é visto com olhos julgadores, o que é terrível, pois gargalhar pelo fato de alguém ter caído é ótimo, se a pessoa não tiver se machucado, é claro. Mas o que estou dizendo é que tem horas que sinto que o bom humor pode desaparecer, por culpa de da repressão dos politicamente corretos.

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  7. Ah, Diego... Eu conheço bem essa sensação. Dias de cão vivem acontecendo comigo. E aquelas situações que deixam a gente com o nervo à flor da pele, então? Meu mecanismo de defesa é rir também. Sinto-me como o Coringa dando uma risada pro mundo: "vocês pensam que me pegaram, mas estão enganados". Eu rio porque a única outra alternativa é entrar num surto de fúria, e como não sou do tipo que sai por aí descontando minha raiva em todo mundo, rir até relaxa os músculos faciais tensos depois de um dia, por falta de palavra melhor, escroto.
    Sobre o que você disse no início do texto: por conta das redes sociais e no meu vicio nelas, eu simplesmente deixei meu livro de lado, assim como muitos projetos. Só não deixo o blog porque ele está, de certa forma, relacionado à minha vida online... É triste demais.
    Com carinho,
    Celly.

    http://melivrandoblog.blogspot.com/

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