ALICE NO FUNDO DO POÇO
EPISÓDIO DE HOJE:
PÂNICO!
Cleptomaníaca: Pessoa que padece de cleptomania, que é um impulso mórbido que o leva a furtar coisas sem valor, apenas para satisfazer o "desejo".
Uma Pessoa normal manteria a calma
e esperaria tudo se resolver de forma civilizada. Uma pessoa como Alice Maravilha
preferia agir como culpada, correndo, ofegante, em direção à porta, gritando
por advogados e pensando para quem seria o telefonema que daria após ser presa,
já que era sozinha no mundo.
Dizem
que em situações de perigo o ser humano desenvolve alguns talentos antes
desconhecidos, isso explicaria aquela maçaneta quebrada em sua mão. Agora
estava trancada e o que a consolava era que sua força recém-descoberta poderia
ser útil quando estivesse na cadeia.
—
Então esse será o meu fim? Vou terminar meus dias na prisão, cercada por presidiárias
com taras estranhas? — começou a chorar compulsivamente e jurou que nunca mais
pegaria nada de ninguém, mesmo sabendo que não era verdade, uma vez que já
estava tentada com uma toalhinha perdida atrás do sofá.
Não
sei bem como se daria a vida de Alice na prisão, talvez um pouco mais
movimentada que a atual situação. Seria sortuda se conseguisse o coração de
alguma das tais presidiárias com taras estranhas, viraria a princesinha da
cela, quem sabe até se tornasse a Primeira Dama do presídio? Bem vantajoso para
quem nunca namorou, ascensão na carreira.
Uma
sirene de polícia ecoou por toda casa... Espere, como assim dentro da casa?
Aquilo não era uma sirene, era um grito agudo e irritante!
—Polícia?
Eu não roubei nada! — mentiu, após surripiar mais uma fotografia e dois bibelôs
da estante. Escondeu-se atrás das cortinas, formando um calombo na parede.
—
Socorro! Socorro! Socorro! Onde está? Apareça ou eu morro! — Um homem alto e
histérico gritava pela sala.
—
Por favor, não me prenda, hoje é meu aniversário e não quero ser presenteada
com uma noiva careca e fã da Ana Carolina! — Pode parecer deboche, mas Alice
estava toda trabalhada nas lágrimas. Abriu os olhos e ficou pensativa. Queria
entender a razão de terem mudado o uniforme da polícia.
O
homem usava um pijama e era azul bebê. O homem tinha cheiro de bebê! O suposto guarda
tinha o rosto pintado de verde abacate, seria camuflagem? Mas qual o motivo das
pantufas?
Ela
encarou o guarda. O guarda a encarou.
Finalmente
a ficha caiu.
Era
o Gato!
Sentiu-se
como Chapeuzinho Vermelho na frente do Lobo vestido de Vovozinha. Onde estava o
sorriso lindo? Que toca bizarra era aquela? Aquilo era outro sonho? Ou será
pesadelo?
—
Onde eles estão? — perguntou o ídolo.
—
No lixo! — respondeu a fã.
—
No lixo? Aqui só tem papel sujo, mas que brincadeira é essa, babá?
—
Oi?
Alice
não entendeu nada e, sem nenhum argumento, preferiu consolar o insano cantor
decadente que, por sua vez, já havia perdido a compostura. Tomado por total
descontrole, o artista ameaçou se jogar pela janela.
Tudo
já havia chegado ao seu limite. Alice agarrou o Gato pelo braço, chacoalhou-lhe
pelos ombros e deu-lhe umas cinco bofetadas.
—
Onde estão meus bebês? — choramingou o Gato.
—
Você nunca teve filhos!
— Não teria sentido contratar a senhora como babá se não tivesse filhos!
—
Sei tudo sobre a sua vida. Minha adolescência se resume em doces, pornografias
e revistas com você na capa!
Alice
era realmente uma esquisita e merecia todos os dramas que a vida lhe presenteava.
De
certa forma o cantor gostou de saber que ainda tinha uma fã. Por alguns
segundos sorriu, mas a aparência ainda estava grotesca.
—
Gosta mesmo de mim? Que sorte ter uma babá como você!
—
Eu não sou babá! Sou Alice...
—
Uma ladra?
Os
alarmes voltaram a berrar e os dois se abraçaram assustados.
—
Eu sou jornalista, vim pra fazer uma entrevista com você. Sou da revista No
Fundo do Poço!
A
palavra “jornalista” surtiu um efeito assustador naquele homem, ele correu
escada acima como se fugisse de um assassino de filme de terror, era muito
narcisista para ser visto pela imprensa naqueles trajes.
—
Volte aqui! Você está lindo... — Os berros foram em vão. A jornalista só voltou
a ver o homem uma hora depois, todo montado e lindo de morrer.
Enfim,
com a serenidade de um idoso oriental, Gato explicou que seus bebês, sua
companhia e família, nada mais eram que três bichinhos virtuais, curiosamente
chamados de: Lindo, Absoluto e Demais.
Alice
quase caiu desmaiada.
CONTINUA
Parabéns pelo blog e muito sucesso Diego... :)
ResponderExcluirhttp://eainanda.blogspot.com.br/
Muito obrigado, quando tiver post novo no seu pode vir aqui divulgar.
ExcluirEsses capítulos estão ótimos, cada vez melhores. Esperando a continuação.
ResponderExcluirwww.eucurtoliteratura.com