ALICE NO FUNDO DO POÇO
EPISÓDIO DE HOJE:
A MALDIÇÃO DOS GATINHOS ARTISTAS
Eluromania: Amor excessivo aos gatos.Pessoas que amam mais aos gatos do que os humanos; não medem esforços para salvar os gatos e alimentá-los.
Algumas pessoas chegam a alugar imóveis só para ocupação dos gatos.
— Eu não entendo... — Foi o mais lúcido que Alice conseguiu formular. Como
assim a culpa era dela? Não, tudo bem, Alice não era nenhum exemplo de
sanidade, possuía um imã para confusão que era surreal, mas desta vez parecia
inocente.
—
Estamos nos separando porque você é uma gorda! — acusou o líder da banda.
—
Oi? — Exatamente, OI? Depois de toda aquela loucura o cara diz que a banda está
se separando pelo fato de uma fã estar acima do peso. Não vejo sentido nisso.
Num segundo todos os adolescentes
malvados ali presente começaram a gritar em coro: “Gorda, gordinha, gordona”.
Alice não sabia onde enfiar a cara. Desejou estar ao lado da magricela para
poder se esconder no meio da mata que era o tal cabelo ruivo.
— Eu não sou gorda! Foi um
feitiço... Um feitiço que a velha do gato me jogou... — gritou Alice, e
oficialmente a história perdeu todo o sentido. As pessoas olhavam espantadas, a
banda parecia ter sido congelada. Até mesmo um passarinho que pretendia fazer
suas necessidades na cabeça de Alice, mudou de ideia.
Todos sentados? Peguem a pipoca, aí
vem mais uma história:
Morava num imundo quartinho de uma
velha pensão no subúrbio. Já tinha se convencido que morar sozinha não era nada
mágico como iludiam os filmes americanos. Para início de conversa a dona da
pensão era uma verdadeira bruxa e chamava-se Dona Gatarina. Isso mesmo, Dona
era o primeiro nome, Gatarina o segundo. Obviamente Dona Gatarina tinha paixão
por gatos e fedia a fezes felinas. Além do vício por bichanos, a proprietária
da pensão tinha outra mania: Televisão! Por isso todos os gatos tinham nomes de
celebridades, era Senhorita Hebe pra cá, Dona Glória Maria pra lá, tinha o
Senhor Marlon Brando, que ela amava.
Certa noite Alice voltava mais uma
vez de seus encontros às escuras. Tinha bebido uma ou dezessete. Abriu com
muita dificuldade a porta e andou fazendo o chão ranger. Por que ela fez isso?
Num piscar de olhos começaram a surgir gatos e mais gatos. Vinha da janela, da
porta, ela pode jurar que viu um se materializando do nada. Alice detestava
gatos. Houve uma época em que achava todos fofos, dava até leitinho, mas a
amizade com os felpudos não durou muito tempo, quando uma gata de nome Winona
roubou a comida de seu prato. Os felinos caminhavam - e miavam - até Alice. Ela
sabia que se Dona Gatarina acordasse, com certeza estaria frita, ou na rua. Os
gatos continuavam com o escândalo, pareciam cantar uma mistura de Macarena e
Saudosa Maloca. A garota pensou em escapar pela esquerda, mas não tinha nada na
esquerda, enfim, ela estava bêbada. Seguiu em frente. Desviou se de um gato
gorducho de nome Jô Soares, ignorou o charme que o Senhor Fabio Junior lhe
mandava. Estava quase na porta do seu quarto, quando aconteceu um imprevisto.
Ela se distraiu com a esquelética e fumante Senhorita Winehouse, e acabou
tropeçando na abundante Gata Melancia, que miou em velocidade cinco. Alice
tinha perdido o equilíbrio, tentou segurar em algo, mas não tinha nada ali. Ela
ia cair. Ela caiu. Um miado agourento tomou conta do recinto. Alice ouviu uma porta
se abrir, ao mesmo tempo em que um trovão explodia lá fora. Dona Gatarina tinha
acordado. A moça estava estatelada no chão, tinha caído em alguma coisa macia e
temia muito saber o que era. Quando Dona Gatarina surgiu, usando sua camisola
velha com estampa do Piu Piu, teve um ataque de fúria. Alice encontrava-se em
cima de seu gato preferido, um perneta de nome Roberto Carlos.
Foi naquela noite que recebeu a
maldição.
A partir daquela noite, toda vez que
Alice ouvisse uma música de Roberto Carlos, engordaria um quilo, até explodir. Desde
então os especiais de fim de ano se tornaram um tormento para a garota...
A história era bizarra. Todos a
olhavam boquiabertos. A Flop4 já não estava mais no palco. Ela ouvia alguém
gritar o seu nome insistentemente. Num piscar de olhos os adolescentes
desapareceram. A voz continuava a gritar, era uma voz conhecida e possuída por
ódio, uma voz masculina. Onde ela estava? Então aquilo era um pesadelo?
Aquilo era um pesadelo! Alice
acordou, suada, os óculos tortos. Seu chefe, o déspota, Salgado Filho, fuzilava
com os olhos.
CONTINUA...
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