Alice, que ainda não entendia o que fazia ali, tratou de consolar a mulher. Num rompante de humor, a chorosa servidora de chá, afastou-se, rispidamente e, com olhar de ódio, voltou a mexer o bule.
Agora contaria a sua história.
Ela tinha o irônico nome de Alegria. Não lembrava a última vez que um sorriso aparecera em seu rosto sujo, nem fazia questão. Segundo Ele a única vez que Alegria fez jus ao nome, era uma tarde chuvosa e gelada, onde, os bules e xícaras, enfim, puderam ser abastecidos com a água que caiam. Aquela, sem dúvida, havia sido uma tarde memorável. Brincaram na chuva vespertina e tossiram e espirravam na noite.
Alegria defendia, de cara amarrada, que a dupla havia se formado a cerca de dois dias ou, talvez, dois anos. Quando um coelho chamado “Homem”, lhe presenteou com um conjunto de chá, perdida e sem idéia do que fazer com tais objetos, acabou encontrando Ele, este deitado sobre uma mesa, sorrindo sem sentido. Desde então, não se largaram mais.
Alice achava tudo aquilo interessante, mas procurava o momento para se livrar dos novos amigos. Estava faminta, e precisava terminar a matéria de sua vida e , é claro partilhar sua experiência para seus amiguinhos na Internet.
Alegria, agora, chorava, enlouquecida, ao se recordar do coelho. Ele, apenas gargalhava. Alice sentia-se mais confusa que na vez em que trabalhou como guia turística para uma família de chineses albinos.
Um ria, outra chorava. Lágrimas e dentes. Drama e comédia.
A inconsolável Alegria havia se jogado no chão. Ele apenas a observava com imensa atenção. Aquele era o momento certo para Alice desaparecer.
Levantou-se e andou, não podia olhar para trás, mas o gnomo da curiosidade que habitava em seu interior, obrigou-a a virar o rosto. Lá estava o homem olhando a xícara e a mulher mexendo o bule.
Satisfeita por ter escapado, voltou a caminhar, quando, inexplicavelmente, alguém sorridente surgiu em seu caminho. Com a leveza de uma bailarina russa, Ele rodopiava e gritava para todos ouvirem: “Alice é uma ótima jornalista”. O coração da fanática parecia explodir de alegria, nunca fora elogiada em toda sua vida... Foi aí que parou para pensar... Sentiu um cubo de gelo descer pela sua garganta. Suas pernas tremiam. Abriu a mochila. A vontade de berrar foi gigantesca. O caderno com a matéria de sua vida havia desaparecido.
Mais adiante, Alegria rasgava furiosamente, as folhas de um caderno com capa de bolotas... Desta vez ela sorria.
Alice achou que fosse morrer...
CONTINUA...
"Alice no país do Pop" é um texto de minha autoria que estarei publicando aqui no blog. É um texto registrado em cartório, portanto, pense bem antes de copiar...