domingo, 25 de janeiro de 2009

CAP 3 - Feliz Aniversário? (Alice no País do Pop ®)

Alice esfregou os olhos, deixando borrar sua maquiagem. Arrumou rapidamente os papéis de sua mesa, e apagou o “sdfalçdsfklfkf~ldsafffffffff...” que havia escrito involuntariamente ao dormir com a cara no teclado do computador. Era seu aniversário. Estava completando 30 anos, mas ninguém havia sequer lembrado disso, já estava acostumada, sempre fora assim, desde a época em que era a baixinha rechonchuda do Orfanato “Meninos Perdidos”.
Por uma fração de segundo sentiu vontade de chorar pela vida safada que levava: Era solteira, sem amigos, não dormia direito por culpa dos miados infernais dos gatos da dona da pensão, e estudou como louca pra concluir a faculdade de jornalismo, para, no fim, terminar trabalhando numa revista falida, sobre artistas de quinta, chamada “Estrelas Decadentes”. Decidiu controlar as lágrimas, jamais faria isso na frente do seu chefe, conhecia muito bem a cabeça maquiavélica de Salgado, para saber que este seria capaz de filmar e colocar tudo na Internet com o título “Baranga em Prantos”.

Em seu velho rádio, uma mulher de voz irritantemente aguda, anunciava o horóscopo. Tudo levava a crer que seria um dia péssimo. Até aí tudo bem. Seus aniversários não eram muito felizes, o mais alegre foi quando passou no hospital, braços e pernas quebrados, havia sido empurrada do brinquedo mais alto do playground, mas pelo menos poderia se empanturrar de sorvete e assistir o que quisesse na TV do hospital.

As últimas palavras da radialista com voz de pata fizeram os pelos da nuca de Alice arrepiarem. Ela terminava assim: “Tudo pode melhorar em sua vida, se você completar a sua missão. Ainda hoje você receberá um sinal que será...”

Jamais saberia o sinal, pois Salgado, acabara de desligar o rádio da tomada, e a olhava como um leão faminto frente a uma lebre suculenta.
Andando de um lado para o outro, o chefe gritava por ela dormir em serviço, ameaçava lhe demitir, reclamava de suas roupas (principalmente do lacinho no alto da cabeça). Enfim, tudo o que fazia diariamente.

Alice comemorou quando o relógio despertou, anunciando fim de expediente. Já estava de saída quando, inesperadamente, Salgado tirou do boldo uma caixinha dourada e um micro cartão de feliz aniversário. Ela não estava acreditando. Seu chefe estava sendo gentil? Dentro da caixa, um broxe raro da Pop5. No cartão, com uma letra surpreendentemente bonita, palavras que mudariam pra sempre a sua vida.
Alice havia sido escalada para entrevistar um dos ex-integrantes da Pop5! Já haviam se passado 10 anos desde o fim da banda, e ela poderia rever os olhos azuis do rapaz com quem se imaginava casada, morando numa casa de frente para o mar, com três filhos loirinhos, falando inglês e criando um casal de poodle. Ele era lindo, ele era forte, ele era o sonho de consumo de todas as garotinhas abobalhadas do mundo. Ele era “O Cara”!

Dados sobre O Cara:
Considerado o mais bonito da banda, ganhador cinco vezes consecutivas do troféu “Gato Perfeito”, da revista adolescente “Hormônios”. Com o passar do tempo, Cara já não ocupava mais as folhas de revista teens. Sua tentativa como cantor solo não tinha dado em nada, mas, mesmo assim, não se achava uma artista decadente. Sempre marcando presença em programas de auditório, game-show’s e festas badaladas. Cara ainda vivia como se o tempo não tivesse passado. Completamente narcisista nunca encontrou uma mulher boa o suficiente para construir uma família.

CONTINUA...
"Alice no país do Pop" é um texto de minha autoria que estarei publicando aqui no blog. É um texto registrado em cartório, portanto, pense bem antes de copiar...

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

CAP 2 - A Maldição dos gatinhos artistas! (Alice no País do Pop ®)

A culpa era dela? Alice já estava acostumada a se meter em encrenca, tinha um imã para confusão que era impressionante, mas desta vez ela sabia que não tinha nada a ver com tudo aquilo. Os integrantes ainda a olhavam com olhos ameaçadores, num certo momento ela pode jurar que viu faíscas saírem de suas narinas. Ela queria entender tudo aquilo, para seu alívio, eles resolveram falar. Bem, teria sido um alívio se a razão fosse compreensível, mas ela era ainda mais surreal que qualquer coisa que ela já tenha visto.

A Pop5 estava acabando. Os integrantes iam um para cada lado. A culpada era Alice. O motivo era...

Alice estava acima do peso!

Acima do peso, fofa, cheinha, gorda, obesa, saco de banha. Foram essas palavras que os cantores usaram quando olharam para a garota. Num segundo todos os adolescentes, malvados, ali presentes começaram a gritar em coro: “Gorda, gordinha, gordona”. Alice não sabia onde enfiar a cara. Desejou estar ao lado da magricela para poder se esconder no meio da mata que era o tal cabelo ruivo. Alice levantou o rosto e gritou para o mundo:

“Eu não estou gorda! Isso é uma Maldição que me jogaram”.

E tudo ficou ainda mais maluco que alguém possa imaginar. As pessoas olhavam espantadas, a banda parecia ter sido congelada, um passarinho que pretendia fazer suas necessidades, na cabeça de Alice, mudou de idéia.
Morava num quarto imundo, que por mais que tentasse não conseguia deixá-lo limpo e fashion, este quarto ficava numa velha pensão com cara de casa mal-assombrada. A dona da pensão chamava-se Dona Gatarina. Isso mesmo, Dona era o primeiro nome, Gatarina o segundo. Como coincidência, Dona Gatarina tinha paixão por gatos, tanto que cheirava a fezes felinas. Além do vício por gatos, a dona da pensão tinha outra mania: Televisão! Por isso todos os seus bichanos tinham nomes de celebridades, era Senhorita Hebe pra cá, Dona Glória Maria pra lá, tinha o Senhor Marlon Brando, que ela amava. Para complicar ainda mais histórico da velha, Gatarina era uma bruxa, o que poderia ser óbvio, dada a sua aparência. Alice descobriu este segredo, quando, certa noite, voltava mais uma vez de seus encontros às escuras, estava totalmente estressada por ter aguardado por mais de cinco horas a chegada do sujeito que, é claro, não apareceu. Tinha bebido uma ou dezessete. Abriu com muita dificuldade a porta e andou fazendo o chão ranger. Por que ela fez isso? Num piscar de olhos começaram a surgir gatos e mais gatos. Vinha da janela, vinha da porta, ela pode jurar que viu um se materializando do nada. Alice detestava gatos. No começo até achava todos fofos, dava até leitinho, mas a amizade com os felpudos não durou muito tempo, quando a gata Winona roubou a comida de seu prato.

Os felinos caminhavam, e miavam, até Alice. Ela sabia que se Dona Gatarina acordasse, com certeza estaria frita, ou na rua. Os gatos continuavam com o escândalo, pareciam cantar uma mistura de Macarena e Saudosa Maloca. A garota pensou em escapar pela esquerda, mas não tinha nada na esquerda, enfim, ela estava bêbada. Seguiu em frente. Desviou se de um gato gorducho de nome Jô Soares, ignorou o charme que o Senhor Fabio Junior lhe mandava. Estava quase na porta do seu quarto, quando aconteceu um imprevisto. Ela se distraiu com a esquelética fumante Senhora Winehouse, e acabou tropeçando na abundante Gata Melancia, que miou em velocidade cinco. Alice tinha perdido o equilíbrio, tentou segurar em algo, mas não tinha nada ali. Ela ia cair. Ela caiu. Um miado agourento tomou conta do recinto. Alice ouviu uma porta se abrir, ao mesmo tempo em que um trovão explodia lá fora. Dona Gatarina tinha acordado. Alice estava estatelada no chão, tinha caído em alguma coisa macia e temia muito saber o que era. Quando Dona Gatarina surgiu, usando sua camisola velha com estampa do Piu Piu, teve um ataque de fúria. Alice encontrava-se em cima de seu gato preferido, um perneta de nome Roberto Carlos.

Naquela noite Alice fora amaldiçoada.

A partir daquele dia, toda vez que Alice ouvisse uma música de Roberto Carlos, engordaria um quilo, até explodir. Daquele dia em diante, os especiais de fim de ano se tornaram um tormento para a garota...
A história era bizarra. Todos a olhavam boquiabertos. A Pop5 já não estava mais no palco. Ela ouvia alguém gritar o seu nome insistentemente. Num piscar de olhos os adolescentes desapareceram. A voz continuava a gritar, era uma voz conhecida. Alice começou a sentir-se diferente, parecia que deixara de ser adolescente. A voz parecia possuída de ódio, era uma voz masculina. Alice pegou o espelho e, agora, via-se com trinta anos. Aquilo era um pesadelo? Aquilo era um pesadelo! Alice acordou, suada, os óculos tortos. Seu chefe, o déspota, Senhor Salgado, a fuzilava com os olhos. Desejou dormir novamente.

CONTINUA...
"Alice no país do Pop" é um texto de minha autoria que estarei publicando aqui no blog. É um texto registrado em cartório, portanto, pense bem antes de copiar...